Eye contact with Adriana Godoy

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“Na tempestade sou vela, aquela que zela por belas canções…”

Rosa Passos e sergio Natureza”

 

Otimismo, a união familiar e a música são os elementos que mantém Adriana forte. Nossa conversa foi carregada de muita emoção. Ela se emocionou, chorou, ficou séria, sorriu. Até gargalhou. Adriana é uma mulher de fé. Por isso, acredita que “sempre uma estrela há de brilhar mesmo quando uma lágrima cair ”, como diz a canção, Estrela, de Gilberto Gil, sua música preferida.

 

Adriana oferece várias possibilidades de interpretação, as vezes é música clássica, muitas vezes é bossa nova, mas pode se transformar rapidamente em um rock’ n ‘roll.

 

“Eu queria estudar biologia, me especializar e entender como  os bichos viviam em comunidade, me encantava compreender como as formigas se organizavam, se comunicavam. Eu tinha paixão por isso.”

 

Mas, foi rápido identificar a sua alma de artista, livre, leve e solta e de fácil convívio. Se tivesse que escolher um estilo de música para descrevê-la, Adriana seria uma música pop.

 

“Eu fazia parte da turma dos melhores alunos da aula e também da turma do fundão. Eu convivia muito bem com os amigos da minha irmã mais nova, mas também adorava e era amiga da turma da minha irmã mais velha”

 

Nasceu e foi criada em uma grande família de cinco irmãos, onde, desde cedo, treinou o estilo de vida em comunidade. Eye contact with Adriana GodoySão Paulo - SP - Oct - 26 - 2016

“Minha família é de músicos, meu pai é músico e minha mãe cantora. Eu me criei estudando na sala com meus irmãos e meu pai ensaiando com cantores, tipo Cauby Peixoto, na sala ao lado. Eu cuidava de meus irmãos, organizava as tarefas da casa. Eu era o braço direito do meu pai.”

 

Cantora profissional, Adriana Godoy começou a brilhar desde os 19 anos quando seu pai a introduziu no universo da música.

 

“Estava desempregada, então meu pai, para me ajudar, me contratou para cantar em um dos shows dele. Fez uma supresa para minha família que estava na platéia. Cantei a primeira vez com ele, chorei de emoção depois da minha apresentação, fui super aplaudida e então eu vi que era isso que eu queria para mim.

 

A partir de então, passou a se apresentar nos palcos da vida. Estudava pelas manhãs e dava aula de música a tarde. Também trabalhava como produtora de música. Foi nesta época que casou com Neimer, pai de seus dois filhos Lucka (15) e Victor (13).  Os dois juntos, depois de casados abriram seu próprio negócio, um café na capital de São Paulo.

 

“Eu Tinha uma vida bem agitada, cheia de compromissos. Cantava muito fora de São Paulo e algumas vezes viajava para o exterior com outros grupos a convite do Consulado Brasileiro para divulgar a musica nacional”

 

Para manter este ritmo, teve a sorte de ter sua mãe e seu sogro como suporte durante os primeiros anos de vida de  Lucka e Victor. Por motivos de saúde, eles precisaram dos cuidados de Adriana e Neimer bem nesta época.

 

“Minha mãe não estava bem, meu sogro tinha diabetes, trouxemos os dois para morar com a gente. Então, quando ganhamos o Victor, nós cuidávamos dele, do Lucka, da minha mãe e do meu sogro. Mas, eles também nos ajudavam muito com as crianças. Foi uma época boa.”

 

E foi com esta cadência que Adriana levou sua vida até receber o diagnóstico de Autismo para Victor, há nove anos atrás, quando o menino tinha em torno de 3 anos.

 

“Na hora que eu fiquei sabendo, eu disse: “Para tudo!” Precisamos dar mais atenção a nós quatro. Precisamos cuidar da nossa família, cuidar do Victor. Eu e Neimer fizemos um pacto, tínhamos que achar uma forma de entender o Victor, mas compreender o Lucka também.”

 

Para ela a palavra “insegurança” é a que descreve este momento, o do diagnóstico. E “certeza” é o sentimento que permeia o momento que vive, hoje, 9 anos depois.

 

Adriana nunca teve dificuldades de aprender e cantar novas melodias. Chegou a ter um estrelato como cantora profissional, com a possibilidade de uma carreirta internacional, mas, naquele momento, escolheu dedicar-se a Victor e sua família.

 

 “Minha sensação foi de que a festa acabou.

Me dei conta que não poderia manter as duas coisas, quando descobriu o autismo de Victor, tive que abrir mão da minha carreira de cantora.”

 

O autismo se tornou uma nova canção a ser interpretada por ela. Um novo desafio, uma nova carreira a percorrer. Adriana mudou. Parou de cantar profissionalmente e vendeu o seu negócio em São Paulo.

 

“Sou uma Adriana antes e outra depois do diagnóstico do Victor.

Sou menos mandona, menos impulsiva, mais flexível,

porque no autismo você não pode agir por impulso.”

 

Ela decidiu mudar seu “approach” de vida.

Trocou de casa, mudou de endereço.

Saiu de São Paulo e se instalaram em Sorocaba.

 

“Tenho uma família muito unida, eu sempre cuidei de todo mundo. Mas, eu senti que precisva de alguém que cuidasse um pouco de mim e da minha pequena família.

Precisávamos ter um olhar para nós quarto.”

 

Pediu e Ganhou colo de sua tia que a convidou para ir morar com ela em Sorocaba, na antiga e confortável casa de seus avós maternos.

 

“Eu não tive tempo para o luto.”

 

Sorocoba foi o ambiente onde Adriana e Neimer tiveram a tranquilidade para colocarem as idéias em ordem. Foi o momento de imersão no assunto. Começaram a estudar sobre o Autismo e aprender como lidar e tratar o Victor e ajudar Lucka e entender o que estava acontecendo.

 

“Victor não conectava com o ambiente.

Era muito difícil ter o olhar do Victor.

Como o irmão não brincava e não interagia com ele, Lucka achava que o problema era ele.

E então nós pedíamos para o Lucka ter paciência, paciência, paciência.

 

Com a falta de uma orientação mais assertiva de profissionais da saúde na época e a ausência de informação sobre Autismo em português, baseou suas buscas em artigos americanos sobre tratamento de autismo e nas conversas com outras mães.

 

“Naquela época (2007), há nove anos atrás, não havia quase nenhuma informação sobre autismo.  Não havia conhecimento sobre tratamento. Não havia  políticas públicas. Na internet você achava 30 artigos em inglês sobre autismo para 3 ou 4 em português.

 

Foi, durante este período, que ela aprendeu muito sobre a terapia Análise do Comportamento Aplicada - ABA*. Fez vários cursos de ABA. Também encontrou no método “histórias sociais” um caminho para ajudar Victor nos seus desafios diários. O método “histórias sóciais” utiliza figuras para ensinar e treinar autistas sobre rotinas diárias básicas como por exemplo: lavar as mãos, tomar banho, arrumar o quarto, incluindo até roteiros mais complexos para um dia inteiro.

 

“Victor já não usava fraldas, quando nos mudamos para a casa da minha tia em Sorocoba…de repente, ele começou a evacuar no chão. Foi quando me lembrei do vídeos da Temple Grandin, e voltei a estudar a técnica da “História Social”. Ainda não tinha material em Português, então Neimer e eu criamos uma história pra ele, uma ilustração dele evacuando no chão com um X vermelho em cima”

 

Victor tirou a sorte grande de ter um pai desenhista. Adriana reconhece com muito orgulho:

 

“Neimar sempre amou desenhar, é bom nisso, estudava muito sobre desenho, mas não ganhava e não ganha a vida profissionalmente com desenho.”

 

Como as histórias sociais disponíveis na internet, naquela época, eram em inglês, Neimer foi obrigado a usar seu talento para desenhar e ilustrar rotinas especiais e personalizadas para Victor.

 

“Usei o desenho do "não evacuar no chão”. Ele reconhecia a vontade de ir ao banheiro nesta história, me chamava puxando pelo braço. Foram dois meses, até que ele parou, nunca mais ele evacuou no chão. Depois desse dia entendemos que estes desenhos seriam nossos maiores aliados.”

 

Foi assim que ela teve a comprovação de que esta técnica funcionava. Adriana, instintivamente, foi se tornando a terapeuta de Victor e Neimer o desenhista oficial de dezenas de histórias sociais para Victor.

 

Adriana e sua família decidiram que era hora de voltar para São Paulo depois de 1 ano e meio morando em Sorocaba. Embora, sempre atenta e 24 horas por dia precocupada com o desenvolvimento de Victor, sentia muita insegurança, se questionava sempre se estava fazendo o correto e o melhor para seu filho.

 

“Eu precisava que alguém validasse o que eu estava fazendo.”

 

Em São Paulo, Victor foi para escola. Tinha uma terapeuta. O casal encontrou uma escola, com uma proposta adequada para o filho autista, mas a escola não se encontrava bem de estrutura e de repente, 1 ano e meio depois, fechou. Durante 8 meses, tentaram achar uma nova escola particular, nenhuma aceitava Victor.

 

 

“Até que encontrei uma diretora que disse assim: Como assim ele está sem escola há tanto tempo? Traga ele amanhã, e o que tivermos que fazer, nós faremos”.

 

Nessa escola, ele entrou no último ano do ciclo infantil e foi até o final e se formou no quinto ano em 2015. O Victor foi muito bem acolhido por seus colegas de classe e sobretudo por suas mães.

 

“Estas mães me apóiam até hoje.

Elas sentiram muito o Victor não seguir com a turma para outra escola, parte da turma esta junta, mas nós decidimos ir para o ensino municipal.”

 

Adriana declara que tiveram muitas dificuldades no processo inclusivo, mas também muitas alegrias e afirma que tudo valeu a pena e que fariam tudo de novo.

 

“O Victor foi o terceiro aluno com autismo dessa escola, quando saímos de lá, haviam perto de 20 crianças com TEA matriculadas, numa escola de 200 alunos.

O aprendizado foi mútuo.”

 

Foi neste período, tentando hamonizar os agudos e os graves do autismo de Victor, que Adriana teve a sua crise. Na verdade, o luto tardou, mas chegou. Ao invés de Victor, foi Adriana que teve que ir para a terapia.

 

“Foi bem nessa época que tive a queda emocional. Sentia uma dor muito forte no estómago. Eu não saia do chão de tanta dor. Eu ficava em posição fetal.

Mas na verdade aquilo era uma angústia.”

 

Neste época, Victor teve a oportunidade de participar de um Workshop promovido pela ONG Autismo & Realidade – www.autismoerealidade.org -, no qual Victor foi avaliado por profissionais que vieram dos EUA especializados em Autismo.

 

“Eu estava muito nervosa, pois eu achava que eles iriam dizer que eu estava fazendo tudo errado. Foi completamente ao contrário, eles ficaram impressionados com nossos desenhos e com a nossa habilidade em tratar o Victor.”

 

A partir deste momento, surgiu uma nova Adriana.

Ela começou a preparar uma nova festa, pois foram estes especialistas que lhe deram a segurança e certeza de que o caminho que ela instintivamente havia escolhido para seu filho estava corretíssimo e poderia servir não só para Victor mas para muitas outras famílias de Autistas.

 

“Foi um marco este workshop na minha vida e de Victor.

O Doutor me deu segurança quando me disse que eu era a capitã do meu time, que era eu quem iria decidir para onde o meu barco deveria navegar.

E a Fonoaoudióloga, a Dra. Erin Lozott, me disse que estava tudo certo, ficou impressionada com os desenhos e brincou dizendo que iria me convidar para eu dar a aula no lugar dela sobre este assunto. Eu tive uma crise de choro de emoção.”

 

Foi ali, naquele momento mágico que Adriana obteve plantada em seu coração a semente do futuro Projeto Integrar, a ONG que se tornou sua nova melodia de vida e o marco do ressurgimento do seu estrelato.

 

Algum tempo depois, Victor fazia reforços terapêuticos no Projeto Amplitude - www.projetoamplitude.org - Adriana passou a distribuir os desenhos roteirizados de Victor para as mães de autistas com quem se relacionava.

 

 Eye contact with Adriana GodoySão Paulo - SP - Oct- 26 - 2016“Eu via a dificuldade das famílias em produzir o material que nós fazíamos a toda hora para o Victor. Então um dia resolvi imprimir o desenho do “Banho Bom” e levei para as mães. Duas semanas depois, uma das mães veio me agradecer muito, com olhos marejados, muito emocionada, pois o desenho “Banho Bom” de Victor tinha feito efeito para sua filha de 7 anos que pela primeira vez tinha tomado banho sozinha.”

 

Este foi o ponto de partida para que ela e Neimer criassem um blog e um website para começar o Projeto Integrar.

 

“Sai de lá aquele dia muito feliz, mais muito intrigada.

E pensei, "nossa isso é sério". Quantas famílias talvez se beneficiariam com isto?”

 

E foi o que fizeram e fazem até hoje.

Os pais de Victor usaram a internet como a plataforma para disponibilizarem gratuitamente estes desenhos e rotinas sociais. O website do Projeto Integrar está no ar desde novembro de 2013, oferecendo estas valiosas ferramentas com o objetivo de assegurar aos autistas brasileiros autonomia e aprendizado.

Depois do lançamento do projeto, em uma semana obtiveram mais de 8 mil visualizacões.

 

“Temos em média 400 visualizações diárias, mas quando fazemos um novo post (são quinzenais), sobe para 1500 visualizações aproxidamente durante 5 a 6 dias…”

 

A maioria das histórias sociais que estão no acervo do website são as que o casal confeccionou para o Victor. De novo, qualquer família pode fazer o download pois é totalmente gratuíto.

 

“Só cobramos quando o a rotina social é encomendada, personalizada. Dai tem um custo, mas quem encomenda vira um parceiro do projeto, porquê ele financia um desenho que  outros podem baixar gratuitamente.”

 

O projeto de Adriana e Neimer preza pela acessibilidade, é um projeto totalmente virtual.

Mas o sucesso é totalmente real.

 

Em 2015, ganharam um prêmio da Prefeitura de São Paulo – VAITEC – um programa de incentiva Iniciativas Tecnólogicas de Impacto Social. Esta verba possibilitará que o Projeto Integrar disponibilize através de um novo website cursos a distância para capacitar as famílias e interessados a desenvolverem a técnica de desenhos roteirizados.

”Vamos entrar numa nova fase do projeto. Oferecendo um curso a distância, com preço acessível, e fácil linguagem para que as pessoas venham a produzir seus próprios desenhos. O foco é atingir familiares, terapeutas e professores.”

 

Adriana tem como mantra uma frase da Dra Erin Lozzott: “O apoio gera capacidade.” E com o Projeto Integrar, Adriana mantém este foco e tem o privilégio de realizar seu sonho que é apoiar e atender mais de 200 mil famílias em todo o Brasil.

 

“Sempre sonhei em poder ajudar outras pessoas.

Eu desejo multiplicar o projeto em todos os países.”

 

Enfim, Adriana sempre foi fadada ao estrelato.

 

Hoje, Adriana pode ser comparada a um sol, brilhando não só como cantora profissional, mas como uma maestrina para a comunidade de famílias de autistas no Brasil.

 

Adriana e Neimer, de uma forma muito generosa, fazem gravitar ao seu redor as mais diversas, coloridas e diferentes estrelas que são as famílias de autistas do Brasil.

 

Não deixe de visitar, compartilhar e divulgar o website  do Projeto Integrar autismoprojetointegrar.wordpress.com

 

Em janeiro de 2017, será lançado o novo site já disponibilizando as inscrições para o curso a distância: “Como elaborar Desenhos Roteirizados para Pessoas com o Transntorno do Espectro Autista.”

 

O recado de Adriana: “Mantenham-se unidos esse é o maior desafio. Por muitas vezes adoecemos com o diagnóstico e demoramos para perceber que estamos doente. Ao contrário dos nossos filhos, nós podemos curar isso. Não se perca buscando a cura, o autism é uma forma de se relacionar com o mundo e tudo, ao seu tempo, será melhor compreendido. Nao dê valor a boatos, se engajem, mantenham sua vida pessoal, como casal, namorem…”

 

 

Para quem quiser saber um pouco sobre a carreira de Adriana Godoy:

• Primeiro CD ela gravou enquanto estava grávida de Victor – 2002/2003.

• Apesar de tantos desafios, gravou o segundo CD em Março de 2010.

• terceiro CD foi lançado em 2014, com o grupo: “3GTrio - com seus dois primos Frederico Godoy- piano e Tico de Godoy, sax - de nome: “O que a Gente Ouvia Lá em Casa”.

• Em 2017, Adriana se prepara para lançar o quarto CD de nome “Ágape”.

 

Life Stories

 

 

 

 

Algumas das histórias sócias que vc vai encontrar no Website do Projeto Integrar

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

    

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